Ok, parece que ando com a mania de que quero escrever sobre o Narcisismo ou assim. Acabei por o fazer, tudo de uma só vez, sem estudos nem nada (erros e afins, my apologies), apenas com um esboço tosco do que queria com este texto. Aviso desde já que o mesmo contém uma espécie de homoerotismo esquizofrénico, pelo que qualquer mente que não tolere quer textos eróticos quer “referências” a homossexualidade, não deve, à partida, ler o que escrevi.
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» O mundo éramos nós os dois, eu e o espelho, eu e eu. Não precisavamos de mais nada para além de nós. Poderia haver algo mais perfeito do que isto? Apenas tinhamos certezas, segurança, felicidade, amor. Ninguém no mundo conseguiria algo melhor. O que há de mais adequado a mim do que eu próprio?
Quando entrei no quarto, somente o espelho me olhara. Era maior do que eu, rectangular, imaculado, decorado por uma moldura dourada fortemente trabalhada na qual se distinguiam diversas figuras humans abraçando um par idêntico. Estava pendurado numa parede branca – a mesma que revestia todo o pequeno quarto – disposto de forma a que quem entrasse neste local escondido fosse directamente confrontado com a sua imagem.
Estes pensamentos, formulo-os em espiral. Mal me consigo concentrar em algo para além de mim, de nós. O tempo parece-me extenso, mas mal passou uma hora desde que entrei neste quarto. Sei que estou hipnotizado. Sei que não quero saber.
Desejo-me
Dou um tímido passo em direcção a mim mesmo. Vejo-me com mais nitidez, tendo a possibilidade de me deleitar com a minha própria imagem, com o meu cabelo curto brilhando à sobrenatural luz de nenhures, a minha face aparentemente mais simétrica do quie dela me recordo, com a pele mais lisa, mais limpa, a barba perfeitamente regular, os olhos grandes e chamativos, o meu corpo definindo a roupa sob a qual se esconde.
Esconder para quê?
À medida que dou passos crescentemente mais firmes e confiantes, vou-me livrando da minha roupa, tentando não parar para me deleitar com a minha própria graça. A cada passo, os meus gestos vão-se tornando mais frenéticos, mais desesperados, como se um calor impossível viesse de dentro de mim mesmo, capaz de fazer arder cada peça de roupa se não as retirar rapidamente. Respiro aceleradamente enquanto rebento com dois botões das calças – o meu tronco nu já perfeitamente visível – e quase tropeço na pressa cega de tirar os boxers.
Fico nu em frente ao espelho. Os meus olhos percorrem cada linha do meu corpo, demorando-se naquelas que melhor conheço. Ilusoriamente, a minha imagem ao espelho dá uma volta sobre si mesma, e eu fico desejoso de agarrar aquela ilusão, de beijar o meu próprio traseiro.
Quase tropeço, levado pelas minhas mãos à superfície fria do espelho. Agarro-me à sua moldura, tocando-o com o máximo do meu corpo possível. Fecho os olhos, imaginando que estou a tocar em mim mesmo. A erecção chega por fim inevitável. De uma forma que me teria chocado no meu estado normal, cresce-me água na boca. Mordo o meu lábio carnudo.
Não chega. Preciso de mais. Preciso de sentir mais. Os meus olhos abrem-se. Afasto do espelho a parte superior do meu tronco, e olho para a minha própria imagem. Sou lindo. Quero-me. Preciso de mim, preciso de foder com aquele espelho. Fecho os olhos novamente e, estremecendo de deliciosa antecipação, beijo o espelho.
E é como se uma língua – quente, familiar – abrisse caminho pelos meus lábios. Recebo-a sem qualquer pudor, lambendo-a de volta, sugando-a, procurando os lábios por trás dela. As minhas mãos agarram um corpo, e sinto-me a ser puxado de encontro a uma réplica de mim mesmo. Não preciso de abrir os olhos para sentir que é real, preciso apenas de me controlar para que tudo não seja demasiado rápido. Não podia chegar ao fim depressa demais.
Beijo-lhe o pescoço, e uma voracidade tenaciosa apodera-se de mim. Mordo aquele local em desespero sexual, indiferente às marcas que poderia causar; pior, queria marcar-me. Queria que o mundo soubesse que eu sou meu.
Ele puxa-me a cabeça para trás pelo cabelo, arrancando-me um gemido. A sua boca, os seus dentes, brincam pela base do meu pescoço, antes de chegar ao peito, enquanto as suas mãos – de dedos esticados – me descem pela base das costas. Entro em delírio e sinto-o igual. Quero-me tanto. Torço-lhe os mamilos porque não consigo chegar mais abaixo.
Subitamente, ele vira-me, e sou eu que estou contra o espelho. Sinto a sua pélvis a aproximar-se de mim, e as minhas mãos puxam-no para mais perto de mim, para onde ele podia causar estragos. Beija-me o pescoço, as suas mãos descem suavemente pelas minhas pernas, provoca-me com promessas de masturbação.
De repente, empurra-me. Sinto-me como se tivesse caído de uma montanha e quebrado a superfície congelada de um rio glacial. Está frio, um frio insuportável. Não compreendo o que aconteceu, e os meus olhos abrem-se, nervosos, sondando a escuridão que me rodeia. Sinto-me verdadeiramente assustado.
E então ouço uma voz atrás de mim.
Obrigado.
Viro-me bruscamente, sendo confrontado com uma janela luminosa do tamanho do espelho. Através dela, vejo um rapaz – alguém diferente de mim – vestindo as minhas roupas. Tento gritar, bato com a mão na janela rígida com toda a minha força. Em simultâneo, rapaz acaba de se vestir, indiferente aos meus gritos. As roupas ficam-lhe grandes.
Por fim, ele vira-se para mim, e o brilho sobre-humano nos seus olhos assusta-me. Sorri.
Obrigado, repete.
E, com um último aceno, vai-se embora.